Ação de Toninho Geraes contra Adele joga luz sobre um possível plágio de música de Caetano Veloso na Itália

A canção de exílio ‘London London’, de 1970, tem melodia similar à de ‘Che sarà’, música italiana lançada na edição de 1971 do Festival de San ...

Ação de Toninho Geraes contra Adele joga luz sobre um possível plágio de música de Caetano Veloso na Itália
Ação de Toninho Geraes contra Adele joga luz sobre um possível plágio de música de Caetano Veloso na Itália (Foto: Reprodução)

A canção de exílio ‘London London’, de 1970, tem melodia similar à de ‘Che sarà’, música italiana lançada na edição de 1971 do Festival de San Remo. Caetano Veloso em Londres, em 1971, na sessão de fotos para a capa do primeiro álbum gravado pelo cantor na Inglaterra Johnny Clamp / Reprodução ♫ MEMÓRIA ♪ A ação movida pelo compositor Toninho Geraes na Justiça contra a cantora britânica Adele e a gravadora Sony Music – com a alegação de que a canção Million years ago (Adele e Greg Kurstin, 2015) seria plágio do samba Mulheres (Toninho Geraes, 1995), sucesso de Martinho da Vila – traz à tona outros casos em que compositores estrangeiros teriam copiado músicas de artistas brasileiros. O caso mais antigo é também o menos conhecido e envolve Caetano Veloso, vítima de um possível plágio nunca reclamado ou denunciado pelo artista. Vamos aos fatos: London london teria tido parte da melodia aproveitada na canção italiana Che sarà, fato que se torna praticamente inquestionável com a comparação entre as duas músicas. London London é música composta por Caetano no exílio em Londres e enviada pelo compositor da Inglaterra para Gal Costa (1945 – 2022), cantora que a apresentou em single editado em agosto de 1970, três meses antes de a mesma gravação sair no álbum Legal (1970). O compositor italiano Jimmy Fontana (1934 – 2013) – que alardeava ser “pesquisador da música brasileira” – teria ouvido London London na voz de Gal quando veio ao Brasil em 1970. No ano seguinte, Fontana teria se apropriado de parte da melodia, criado um refrão e, com letra de Franco Migliacci, formatou a canção Che sarà, apresentada com sucesso no Festival de San Remo na edição daquele ano de 1971. A música obteve o segundo lugar no tradicional festival italiano, tendo sido defendida pelo cantor José Feliciano com o grupo Ricchi & Poveri, trio italiano que ainda permanece em cena. Na ocasião, talvez por estar vivendo em Londres em estado melancólico e possivelmente sem saber da suposta apropriação em mundo ainda pouco conectado e sem sonhar com a internet, Caetano não entrou na Justiça contra Jimmy Fontana. O caso acabou no esquecimento, embora tenha sido até noticiado pela imprensa brasileira. Em abril de 1971, artigo intitulado “Plágio vergonhoso” e assinado por Carlos Vergueiro, denunciou no jornal O Estado de S. Paulo a evidente similaridade das melodias de London London e Che sarà. London London ganhou a voz do autor em gravação lançada no primeiro dos dois álbuns gravados pelo artista brasileiro na Inglaterra, Caetano Veloso, disco editado em 1971. Sete anos depois, em 1978, outro caso de plágio veio à tona. E, desta vez, fez barulho no Brasil e no mundo. É o caso mais famoso da música brasileira no gênero. Trata-se da apropriação de parte de Taj Mahal (1972), música de autoria Jorge Ben Jor lançada pelo artista carioca no álbum Ben (1972), pelo cantor e compositor escocês Rod Stewart no refrão da composição Da ya think I'm sexy?, criada por Stewart em parceria com o baterista Carmine Appice e Duane Hitchings. Stewart lançou Da ya think I'm sexy? em 10 de novembro de 1978, como single do então ainda inédito nono álbum de estúdio do cantor, Blondes have more fun, lançado no fim daquele mês. Atento aos sinais, já que a música de Stewart explodiu no mundo todo, Jorge Ben Jor reclamou os direitos que eram dele, Ben, e a pendenga foi resolvida com a doação dos lucros obtidos pela faixa para a Unicef. Anos depois, em 2012, Rod Stewart admitiu a culpa na autobiografia do artista, mas alegou que o plágio tinha sido inconsciente, pois ouvira muito Taj Mahal quando estivera no Brasil, no Carnaval de 1978. Ou seja, não é de hoje que compositores do mundo todo prestam bastante atenção na música brasileira, de forma consciente ou não...